Há quase um ano, cheguei bem perto de ter minha vida abreviada em função de complicações do COVID-19. Na verdade, penso que nunca sabemos o quanto próximos estamos da morte. Entretanto, confesso que, para mim, ela estava na espreita.
Eu, que trabalho tanto, repassei parte de minha vida e, humildemente, acho que finamente entendi a exclamação de Salomão, em Eclesiastes, quando ele persiste que, sob o sol, tudo é vaidade.
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![]() Eclesiastes 5:18 |
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![]() Eclesiastes 5:19,20 |
Houve um momento, quando achava mesmo que iria partir, onde ponderei sobre o que mais me valia: 10 minutos a mais com meus filhos ou meu novo (na época) MacBook Pro. Rapidamente, a resposta óbvia foi diferente daquela que governava, pelo menos até então, minha rotina.
Não posso dizer que sou descuidado comigo. Na verdade, tinha uma mania persistente de me boicotar. Tenho algumas jóias que carregam significados importantes para mim. Elas, as jóias, deixaram meu corpo quando fui para a UTI e foram substituídas por uma roupa comum, de hospital, daquelas que cobrem algumas de nossas vergonhas, mas deixam de fora outras. Fiquei exposto! Tudo que tinha, boa parte da minha identidade, se perdeu em segundos. Tudo vaidade!
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![]() Eclesiastes 6:1,2 |
Quase ir embora tornou evidente, de forma contundente, que acumular bens sem o propósito de viver o essencial é também vaidade. Aliás, frequentemente castigada (embora não haja, aqui, castigo de Deus mas das circunstâncias), com gastos inesperados. Ou ainda, causando a discórdia entre aqueles que ficam.
Ainda na minha curta experiência da UTI, tive que lidar com o fato de precisar “fazer o número 2” deitado, exposto e sujo. De, mesmo adulto, ter alguém me dando banho. De ver a roupa de cama ser trocada e perceber que, por mais que quem cuidasse de mim se esforçasse para me manter limpo e asseado (sou um homem grande), vestígios do “número 2” estavam nos meus lençóis. Me tornei dependente para entender que minha necessidade de independência é, também, vaidade!
Por dias, não consegui respirar profundo. Lembro-me de ter comentado, dias depois de sair da UTI, que respirar havia se convertido em meu maior prazer. Mais do que respirar profundo, provavelmente, vaidade!
Por uns dois meses, fiquei com raciocínio lento. Logo eu, que “vivo de pensar”. Pensar demais, pura vaidade!
Minha frequência cardíaca ainda não voltou ao normal e, como herança, hoje sou diabético. Tive que ter um corpo teimando em funcionar do jeito errado para começar a entender o valor de viver do jeito certo. Estou perdendo peso, fazendo exercícios. Falta ou excesso de cuidados com a saúde, também é apenas vaidade!
Superar o COVID-19, foi uma Graça de Deus. Ressignificar a experiência é o mínimo que poderia fazer em agradecimento. Além de estar vivo, ganhei uma nova perspectiva sobre a vida. Hoje, aprendi a conviver com quem amo, comendo, bebendo e vivendo. Convivo com a vaidade e entendo que ela é inevitável em nossa imperfeição aqui. Humildemente, entretanto, peço a Deus sabedoria e discernimento para não perder de vista o que é importante!
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![]() Eclesiastes 7:16,17 |
Glória a Deus e a seu Filho e Nosso Senhor Jesus Cristo.
Deus ainda te quer aqui nesta vida para ajudar a mudar outras vidas! Parabéns! Excelente texto e ótimas reflexões sobre o essencial que muitas vezes é invisível aos olhos.
Emocionada com esse relato tão profundo, rico e cheio de sabedoria ! Muito obrigada Elemar, por compartilhar esse texto com reflexões tão valiosas!
Bela reflexão Elemar. E como você me conhece, creio que hoje mais tento qualificar a vida do que ter qualidade de vida. Creio que devo repensar isso.
Obrigado pela oportunidade.